Que o cancro é a doença do século já todos sabemos. Mas teremos nós alguma culpa nisso? Estudos recentes procuraram dar uma resposta. E nós procuramos ouvir a voz de quem venceu o maldito problema.
Storified by Andreiacosta ·
Thu, Jan 07 2016 23:53:01
No último mês o Diário de Notícias avançou com a notícia que atribuía aos nossos maus hábitos de vida a culpa de grande parte dos cancros.
Segundo a mesma fonte, em cada 10 cancros somos culpados de 9. Desde os fatores ambientais e externos, como o tabaco, o álcool, a exposição ao sol ou até mesmo a poluição, todos estes são fatores que parecem fazer as maravilhas dos malditos tumores. Acabando assim com a ideia de que a maioria dos cancros seria causada por mutuações aleatórias nos genes. Se assim for podemos afirmar que o cancro pode ser evitado através da escolha de um estilo de vida saudável e equilibrado a todos os niveis.
Porém existem alguns casos que parecem não se identificar com o recente estudo. Um deles é o de Teresa. Uma mulher positiva que primorou sempre por uma vida saudável, alimentação equilibrada, exercicio fisico regular, sem álcool ou tabaco. Uma vida sem excessos ou irresponsabilidades. Porém também esta foi uma vida marcada pelo cancro.
Aos 45 anos e sem nada o fazer prever, uma mamografia revelou o pior: era um tumor, era maligno e a biópsia era urgente.
"O mundo fugiu-me naquele momento. Tinha saído do trabalho para ir a uma mamografia de rotina. Estava super tranquila e desejosa por chegar a casa para ir jantar fora. Esse jantar nunca chegou a acontecer e as horas que se seguiram foram passadas sozinha no carro a tentar cair em mim e perceber o que tinha acabado de me acontecer", afirma Teresa.
Contar o cancro à família
"O passo seguinte foi ganhar coragem para entrar em casa e contar a terrível notícia. Soube desde aí que vida nunca mais sería a mesma. O meu marido ficou em choque, aflito e sem saber o que dizer ou fazer. A minha filha, que na altura tinha 17 anos, reagiu de forma mais tranquila. Ela prefere guardar os sentimentos e os medos para ela. Nisso sai a mim. Depois deste passo seguiram-se inúmeros telefonemas para tentar encontrar a equipa que melhor conseguiria tratar-me."
Notícia dada restava dar início ao percurso para a cura.
"Depois disto foi tudo muito rápido. Nem uma semana depois e já estava a ser operada. Mastectomia conservadora e esvaziamento axilar. Nunca nada me foi escondido daqui para a frente. Tinha desde logo sido avisada que a quimioterapia e a radioterapia eram garantidas. E essas eram as maiores pedras no meu caminho."
A primeira ida ao IPO
"Fiquei boquiaberta assim que entrei no estacionamento. Não havia um único lugar disponível. Eram 7h30 da manhã. Estavam dezenas de pessoas a chegar. Entrei para a primeira consulta com aquela que iria ser a minha médica. As salas de espera estavam lotadas. A zona pediátrica fez-me imediatamente repensar no sentido de justiça do mundo. Eu não tinha feito nada para merecer um cancro. Mas muito menos tinham feito aquelas crianças. Tão pequenas, e tão debilitadas. Rapidamente passou-me pela cabeça a quantidade de vezes que me chateei por coisas tão mínimas como o trânsito ou a chuva, ou o frio em demasia, ou o sol que não se aguentava. Tudo o que as pessoas que ali estão desejam é poder viver para apanhar a brisa fria de Inverno, o sol quente de Agosto, poder ouvir as buzinas matinais da VCI ou poder testemunhar a loucura das compras de Natal. Tudo coisas que agora estavam bem longe do alcance daquelas pessoas. E do meu alcance também. "
"Eu não tinha feito nada para merecer um cancro"
O início dos tratamentos
"Seguiam-se 6 sessões de quimioterapia acompanhadas de muitas restrições. Tinham-se acabado os restaurantes, os espaços ao ar livre, os shoppings, qualquer saída nos próximos tempos. A comida tinha de ser muito bem confecionada, com inúmeras restrições. Uma simples sopa não podia ser feita no dia anterior. Tudo tinha de ser fresco e bem cozinhado para eliminar qualquer micróbio que pudesse vir minar o meu tratamento e a minha condição. Numa situaçaão destas, uma simples gripe pode ser fatal. Com as defesas super em baixo, todos os cuidados eram poucos. Os meses seguintes foram passados na cama. A fome não era nenhuma e as noites eram passadas a vomitar na casa de banho. Não tinha forças para nada e todo o corpo doía."
Mas este era uma das várias provas de fogo que Teresa tinha para enfrentar. Outra prova por superar era aquela que ia caindo aos poucos no seu duche. O cabelo.
Rapar ou deixar cair? O que fazer ao cabelo que teima em ir embora?
"Logo na segunda semana após a primeira quimioterapia o cabelo começou a cair. Teimava em ficar no duche, na escola, em todo o lado, menos onde deveria estar. Percebi que tinha pouco tempo para tomar uma decisão sobre algo que até ao momento tinha evitado pensar. Nesse fim de semana rapei o cabelo.E foi a melhor decisão que tomei. Vê-lo cair com o tempo seria, de longe, muito pior."
O cabelo, símbolo da feminilidade e da sensualidade da mulher, é um aspeto que pode mexer muito com a auto-estima da paciente. Não foi o caso de Teresa nem da atriz Sofia Ribeiro, cujo cancro da mama foi detetado a 13 de Novembro e a 7 de Janeiro partilhou num video a sua decisão de cortar o cabelo quando este "Começou a cair. Como se estivesse colado com a cola que usava na escola", afirma a atriz.